Ponto de vista
(Mako)
~ Quatro anos atrás.
~
— É
sério! Eles desapareceram do nada! — disse, irritado. Eles têm que acreditar em
mim! Droga. Eu devo estar parecendo um maluco agora. Que se foda. — Vocês são uma
merda de policiais, sabia? Estão vendo que estou nervoso e mesmo assim não
fazem nada!
Continuei
a reclamar.
— Eu
sou do colégio Yamada, aluno do sexto ano. Não vou desistir até que saibam da
verdade!
Bati
os pés fortemente no chão enquanto ia para fora do estabelecimento. Ao entrar,
Renan – um vizinho meu – e uma garota me empurraram de lado e entraram na
delegacia.
—
E-ei! — E agora tem isso, até esse cara louco dos dez mil gatos acha que é
melhor do que eu. Pelo menos é uma distração para os policiais se esquecerem do
que fiz.
“Não
podemos deixar este bandido sair ileso, Tomoyo, se acalme!” O ouvi gritar de
dentro do lugar.
Sentei
do lado de fora com pernas de índio. Abaixei minha cabeça, entristecido. Tirei
uma fotografia de meu bolso — Ani, onde você está... — Comecei a chorar vendo a
foto. Foi uma das últimas coisas que tínhamos feito: Fomos na papelaria para
imprimir isso, onde depois fomos para a casa dela junto com nossos outros
amigos.
Levantei
minha cabeça e vi uma garota parada em minha frente. Ela era bem alta e parecia
ter uns dezoito ou dezenove anos pela aparência, uns seis a sete anos mais
velha que eu. Vestia um vestido rubro e negro que ia até os joelhos. Apertado
como um espartilho na cintura, onde encontrava-se um laço belíssimo com um nome
estampado “Reya” e com algumas voltas de renda preta. Abaixo desses detalhes de
tecido, várias camadas de babados vermelhos se estendiam, segurados por
lacinhos de mesma cor e mais rendas. Digno de uma rainha... Rainha de Copas.
—
Q-quem é você? — perguntei, assustado. — Levantei e me afastei.
Ela
subiu seu braço mostrado a palma de sua mão em minha direção, qual fez um
impulso, mandando-me para trás. Segundos depois minha visão estava girando e
tudo começava a escurecer.
~ Quatro anos
depois, antes da tragédia ~
—
Isso é tudo o que eu lembro... — narrei minhas lembranças para Choco e Neko.
Não sei quem seria Ani ou os outros que “desapareceram”. Isso é o que mais me
irrita, eu fui parar no hospital não sabendo de nada. E de alguma forma, eu
nunca contei para meus familiares sobre estes tais amigos. E ninguém ouviu
falar sobre este tal colégio Yamada.
Todo
dia eu sinto um aperto no coração, como se algo estivesse faltando. Isto me faz
chorar. Será que é por que eu considero tanto meus amigos? Eu não quero perder
mais alguém... Embora isso eu não consiga dizer para eles, eu queria, e muito.
—
Isso é chato. Mas agora você tem a mi- nós, certo? — Neko disse, envergonhado.
Ouvi Choco dar uma leve risada. — ...
Ele
desviou o olhar, corado. Choco logo completou o que queria dizer antes: — Vamos
parar com isso, só vai te entristecer, esqueça que te perguntei isso. Ok?
Eu
afirmei com minha cabeça. — Entendo.
—
Hoje é seu aniversário, não é Makoto? — Fernanda virou seu assento para trás,
ficando em minha frente. Eu estava sentado com os outros dois com eles em suas
cadeiras de cada lado. Agora todos as laterais da mesa estavam ocupadas. —
Parabéns! — Ela me entregou um colar prateado com uma estrela roxa. Isto por
algum motivo, me deu náuseas.
Ah,
é isso, eu vi este símbolo na mão daquela garota! Como eu não tinha me
lembrado? — Esta estrela roxa...
Fernanda
sorriu. — De nada. Obrigada pela sua educação! — Riu. — Aliás, sempre me
perguntei. De onde vieram estes apelidos?
—
Pelo que me disseram, tem uma garota chamada Sara que é de dar apelidos para
todos, qual chegou nesta escola querendo ser chamada de Sah. É bastante amiga
desses dois, e foi a quem deu estes apelidos. Eu apenas comecei a aderir e todo
mundo também.
—
Ei, não fale como se ela fosse um ser misterioso, ou algo assim! — Bufou suas
bochechas. — Meu nome verdadeiro é a única coisa secreta sobre mim! Apenas Sah,
Neko, o diretor e os professores sabem!
— E
seu nome, Makoto? Também é estranho, não é? — disse Fernanda olhando em meus
olhos.
— Os
pais dele são japoneses... — sussurrou Neko. — É um segredo só nosso, ok, Fer?
Vi
que ela tinha ficado confusa, não é algo que eu também queria guardar segredo.
— Não fale por mim, Neko. Não é como se fosse secreto isso.
Choco
se levantou e o pegou pela mão, saindo da sala com passos fortes logo depois.
Parecia estar com raiva. Eu não entendi muito bem...
A sala
era espaçosa, e estava cheio de outras estudantes lá também. Todos ficaram
surpresos com a reação dela.
Fernanda
e eu nos olhamos, preocupados com o que ela deve ter pensado da gente ou de mim.
Será que ela ficou com raiva? Eu não quis ser grosseiro com ninguém.
Levantei-me
da cadeira e fui em direção da porta, falar com eles. — Neko, Choco, onde vocês
estão? — perguntei, sem nenhuma resposta. Aquilo era muito estranho.
~ Depois da
tragédia. ~
Sinto
minha cabeça doer, não consigo abrir os olhos. Parece que algo está mordendo todo
meu corpo, cada parte dele, cada milímetro quadrado. Minha boca se abre sozinha
e sinto algo entrando por ela. Não consigo mais me sentir tocando o chão. Será
que estou levitando?
Meu
pulmão está doendo e por algum motivo sinto que posso respirar novamente. Em um
só impulso sou jogado para o chão.
—
Ah! — grito, assustado. Abro os olhos e boto a mão no peito para começar a
respirar sem dificuldades. — M-mas que merda que acabou de acontecer?
Olho
em minha volta. — Onde estou? — perguntei, sem nenhuma resposta graças a deus.
Aquilo
parecia uma sala do colegial vazia. Não tinha as mesas dos alunos, apenas a do
professor. O que tornava tudo mais estranho. Só que... eu reconheço este lugar.
Levanto e vejo em minha volta vários buracos no chão, tento olhar em algum
deles e não consigo ver nada, como se não tivesse algo em baixo.
Sinto
meu corpo tremer enquanto procuro lentamente sair da sala para explorar. O
corredor era escuro como também dentro de onde eu estava. O chão e as paredes
eram feitas de madeira e estavam velhos como nunca.
Olho
em minha volta e vejo que tem caminhos para os dois lados e para frente. Esta
sala é o centro daqui, todas as direções levavam para cá. Que estranho.
Fui
para frente e consigo ver duas placas indicando o banheiro masculino, somente
ele, que esquisito. A porta daqui era diferente da de antes: Possuía três
colunas de barras de ferro em seu exterior, embora a porta ainda fosse de
madeira. Segurei a maçaneta firmemente e a girei com cuidado para entrar no
local.
O
lugar estava pouco iluminado, a luz vinha da lâmpada que se assemelhava a um
sabre de luz. Em minha frente, estava alguém jogado no chão. — A-ah!
Senti
uma força me jogando para frente, me deixando cair do lado dele, o que me fez
perceber que a barriga do sujeito se mexia. Me afastei para levantar rapidamente.
Com
passos cuidadosos fui ver de quem era o corpo — N-n-neko!